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segunda-feira, 4 de abril de 2011

De projeto de parque a lixão

Um cenário degradante, semelhante àqueles mostrados pelas reportagens de comunidades mais pobres do continente africano. O Morro do Camboim, no bairro do Bom Pastor, Zona Oeste de Natal, bem diferente do sabor da fruta, é amargo, sujo, fede, espalha doenças - um lugar que ninguém escolheria para morar e um verdadeiro cartão postal às avessas do rio Potengi. Um ano após a Prefeitura de Natal anunciar a construção no local de um Ecoparque , a reportagem de O Poti/Diário de Natal volta ao Camboim e se reencontra com antigos conhecidos: um lixão espalhado por todo morro, uma favela com cerca de 200 barracos, um leito de esgoto a céu aberto que corta as dunas, passa por dentro da comunidade, devasta árvores nativas e desemboca no Potengi. E famílias que sofrem com doenças devido à poluição e condições subumanas do local.

Em lugar de um parque ecologicamente correto, tão sonhado pelos alunos e professores da Escola Municipal Francisca Ferreira, que fica encravada entre o Morro do Camboim e a Estrada do km 6, a reportagem observou montanhas de lixo que vão se formando ao longo de todo percurso, tanto na subida do morro quanto na própria favela. O lixão tem de tudo, desde sacolas plásticas com detritos domésticos, até animais mortos, entulhos, móveis velhos, pneus e material de sucata de carros e de eletrodomésticos. Um morador que não quis se identificar denuncia que muitos carroceiros transportam lixo para o morro.

O mau cheiro do lixão chega a incomodar as aulas na Escola Municipal Francisca Ferreira. Os professores reclamam que ficam mudando de sala para tentar fugir do problema. Eles confirmam a informação de que a prefeitura não mais apareceu para tocar o projeto. "Até a pedra fundamental já não está mais no lugar e todos nos perguntam por que a obra nem sequer começou", conta uma professora.


Dentre os barracos do local, corre um grande esgoto a céu aberto que vem de ruas mais altas do bairro do Bom Pastor e ameaça a segurança e a saúde dos moradores. O esgotoarrasta lixo, espalha mau cheiro e provoca a erosão de dunas, o que traz, em períodos de chuvas, constantes riscos de deslizamento de barracos construídos no alto da duna, que chega a ter cerca de 10 metros de altura.

Devido à erosão das paredes da vala, várias árvores nativas de grande porte já caíram. O trabalhador autônomo Jonas Santos da Silva explica que o risco de um desmoronamento é tão grande que de vez em quando tem de pagar a carroceiros para que coloquem metralhas nas laterais das casas como forma de proteger o alicerce. Mas as improvisações visando proteger o morro não param por aí. Os próprios moradores revestem com restos de tecido as paredes do morro, por onde passa o leito do esgoto, numa atitude inconsequente que só faz contribuir para a proliferação de mais insetos e roedores. Outro autônomo, David dos Santos, 20, disse que a Urbana simplesmente desconhece aquele lugar e que, diante de tanta sujeira e imundície, teve de levar a família de volta para o interior do Estado.

Temor
 "Gostaria deestar junto com meus meus filhos e esposa, mas aqui não dá para eles ficarem, porque o risco de contrair doenças é muito grande e são frequentes os casos de dengue, gripe, leptospirose e muito bicho de pé". O temor de David é confirmado por outra moradora da comunidade, Daiane Ferreira Siqueira, 29. Com três filhos e trabalhando atualmente com a confecção de alimentos artesanais, ela disse que diariamente tem muito cuidado para que eles adoecerem nem pegarem bicho de pé. "Infelizmente, não tenho condições de morar em outro lugar, onde meus filhos tenham direito pelo menos a lazer", lamenta Daiane, aproveitando para cobrar a relocação da favela conforme foi prometido pela prefeitura quando fez o lançamento da pedra fundamental do Ecoparque.

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